O homem que queria salvar o mundo
“Ele é o cara mais importante do qual você nunca ouviu falar”. Esta foi a definição dada pelo cineasta norte-americano Greg Barker em uma de suas muitas entrevistas à imprensa internacional sobre o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Greg Barker dirigiu o documentário ‘Sérgio’, que estará em cartaz em Amsterdã a partir da próxima semana, dentro da programação do Idfa – o maior festival de documentários do mundo.
O projeto do documentário nasceu de conversas com a jornalista Samantha Power, autora do livro ‘Chasing the Flame: Sérgio Vieira de Mello and the Fight to Save the World’ – traduzido no Brasil como ‘O Homem que queria salvar o mundo. Uma Biografia de Sérgio Vieira de Mello’.
Microcosmo
Barker conta que, embora o livro de Samantha Power conte a história de Sérgio Vieira de Mello de forma cronológica, para o filme ele teve que fazer outra opção. ”O problema com a história de Sérgio é que ele estava em toda parte, em todas as crises mundiais importantes nos últimos 30 anos. Era um desafio difícil para um filme. Que história você escolhe? Se eu tentasse contar tudo ficaria muito confuso. É ótimo para um livro, mas para um filme não funciona”, comenta o diretor. “Quando descobri o que realmente aconteceu no Iraque, particularmente no dia 19 de agosto de 2003, o dia em que o quartel-general da ONU foi bombardeado, e Sérgio foi o alvo daquele ataque, senti que aquilo era um microcosmo, não só para a experiência no Iraque, mas para como as pessoas e instituições respondem em momentos de crise.”
ONU
O diplomata brasileiro fez sua carreira na ONU, onde trabalhou por 34 anos, tendo chegado ao posto de Alto Comissário para os Direitos Humanos em 2002. Muitos acreditavam que seria o sucessor de Kofi Annan. Respeitado por gregos e troianos, Sérgio Vieira de Mello era talvez o principal homem de campo da ONU e esteve presente em muitos dos eventos-chave que moldaram o mundo como ele é hoje – atuou em conflitos no Líbano, no Camboja, na Bósnia, em Ruanda, no Timor Leste, entre muitas outras missões.
Embora tenha se posicionado contra a guerra no Iraque, sua última missão foi em Bagdá. Sérgio Vieira de Mello foi uma das 21 vítimas e principal alvo do ataque da Al Qaeda à sede da ONU em Bagdá, em 19 agosto de 2003. Em homenagem a ele, a data foi escolhida pela ONU como Dia Mundial Humanitário. E também foi o momento escolhido por Greg Barker para ancorar toda a história contada no filme.
Reconstrução
O momento do resgate foi inclusive reconstruído para o documentário. “Em geral eu não gosto de reconstruções em documentários, sempre prefiro ter entrevistas e imagens de arquivo, material original, para contar a história. Mas neste caso não havia outra maneira”, comenta Barker. “Esperei até o final do processo de edição para fazer a reconstrução e tive muita sorte quando os dois bombeiros concordaram em fazer eles mesmos a encenação.”
O resultado é um filme tocante, que, a partir do drama vivido em Bagdá, apresenta o legado idealista de Sérgio Vieira de Mello, um pouco de sua vida pessoal e principalmente a importância do trabalho realizado por ele junto às Nações Unidas.
“Seu grande objetivo era promover a dignidade humana, a dignidade de pessoas comuns ao redor do mundo. Ele acreditava em dialogar com os caras maus, dialogar com pessoas cujas ações eram questionáveis, porque acreditava que você tem que ir a campo, sujar as mãos e tentar conseguir realizar as coisas. E eu achei que era uma mensagem muito interessante, informativa e inspiradora. Era o tipo de história que eu queria contar”, diz Greg Barker. ”Havia alguma coisa na habilidade de Sérgio de ver o mundo não em preto e branco, bom versus mal, mas em vários tons, e perceber que eram precisamente as complexidades, as nuances do mundo, que muitas vezes são desconfortáveis e moralmente ambíguas, que podem oferecer a oportunidade de atingir real progresso.”
O documentário ‘Sergio’ será exibido em três sessões no Idfa, em Amsterdã, e deverá entrar em cartaz nos cinemas brasileiros no ano que vem.
Fonte: Rádio da Holanda